17 de outubro de 2024

Milei corta 5.000 funcionários públicos e quer acabar com trabalhadores ‘nhoques’

Presidente argentino também eliminou barreiras para importadores nesta terça (26)

O presidente Javier Milei desfila no dia de sua posse na Argentina, em 10 de dezembro – Juan Mabromata – 10.dez.23/AFP

JÚLIA BARBON

FOLHA DE S.PAULO

BUENOS AIRES – Seguindo com seu “plano motosserra” contra os gastos públicos na Argentina, o presidente Javier Milei anunciou nesta terça-feira (26) que não vai renovar os contratos temporários de mais de 5.000 funcionários federais que acabam neste mês e foram assinados pelo seu antecessor, Alberto Fernández, no último ano.

“O restante dos contratos entra em um processo de revisão que vai durar 90 dias”, disse o porta-voz do governo, Manuel Adorni, sem precisar a quantos postos de emprego a avaliação se refere.

Segundo o jornal Clarín, seriam mais de 45 mil contratados há mais de 12 meses na administração pública nacional. Enquanto isso, sindicatos marcaram uma nova manifestação para esta quarta (27) e já falam em grandes paralisações.

A não renovação de contratos foi formalizada por um novo decreto de Milei, que traz algumas exceções. Entre elas estão os trabalhadores que entram na cota de pessoas trans e com deficiência, conforme a lei argentina, e também os que foram integrados aos quadros permanentes ao longo deste ano.

O ultraliberal já havia anunciado em sua primeira semana de governo um corte de 18 para 9 ministérios e de 106 para 54 secretarias, o que significaria uma redução de 50% dos cargos hierárquicos e 34% dos cargos federais no total. Não está claro se os contratos não renovados entram nessa conta.

Naquela ocasião, o presidente também determinou o fim do home office para o funcionalismo.

A intenção é acabar com o que popularmente é chamado de funcionários “nhoque” na Argentina, servidores que teoricamente não trabalham e só aparecem no fim do mês para cobrar o salário. Seria o equivalente ao “funcionário fantasma” no Brasil.

A expressão é usada de forma pejorativa por parte da população e vem da tradição de comer o prato italiano para trazer prosperidade no dia 29 de cada mês, data de pagamento da administração pública.Membros do Movimento dos Trabalhadores Socialistas protestam em Buenos Aires no primeiro ato após a tomada de poder de Javier MileiMembros do Movimento dos Trabalhadores Socialistas protestam em Buenos Aires no primeiro ato após a tomada de poder de Javier MileiJuan Mabromata – 20.dez.23/AFP

Outra mudança promovida por Milei nesta terça foi a eliminação de barreiras para importações, medida que o ministro da Economia, Luis Caputo, havia anunciado dois dias depois de sua posse como parte de um pacote de ações para equilibrar as contas públicas.

O governo acabou com um sistema chamado Sira (Sistema de Importações da República Argentina), que foi criado pelo ex-ministro Sergio Massa, candidato derrotado à Presidência, para ampliar a transparência, mas na prática acabou gerando desabastecimento de produtos importados.

Agora, por pelo menos um ano, esse sistema foi substituído pelo Sedi (Sistema Estatístico de Importações). O que muda é que o importador não precisará mais pedir autorização à Secretaria de Comércio para comprar de um fornecedor estrangeiro, mas apenas declarar previamente a compra.

“Com isso, um burocrata ou um funcionário de plantão não vai mais poder decidir o que queremos importar ou não”, argumentou o porta-voz Adorni. “Quem decidir importar vai poder importar.”

Milei foi eleito prometendo mudanças radicais para resolver a crise econômica e a inflação que ultrapassa os 160% anuais na Argentina. Desde que assumiu, em 10 de dezembro, iniciou um acelerado plano através de três principais pacotes de medidas.

O primeiro foi uma forte desvalorização do peso oficial, que era controlado pelos governos anteriores, e um duro corte nos gastos públicos informados por Caputo, que incluíram também a suspensão de obras públicas, a redução de subsídios a energia e transporte e o enxugamento de repasses às províncias.

O segundo pacote foi um megadecreto assinado pelo presidente na última quarta (20), que declara estado de emergência e acaba com regulações do Estado em diversas áreas: muda direitos trabalhistas, permite o aumento dos planos de saúde, abre caminho para privatizações de estatais, entre várias outras.

Uma das mais de 300 leis alteradas possibilita, por exemplo, que qualquer contrato seja realizado em moedas que não sejam o peso. Ou seja, na prática salários poderiam ser pagos com dólares, criptomoedas e até “quilos de carne ou litros de leite”, como escreveu a chanceler Diana Mondino.

O terceiro pacote de medidas é um grande projeto de lei apelidado de “lei ônibus” que Milei pretende enviar ao Congresso em breve. Ele convocou sessões extraordinárias até 31 de janeiro na Câmara e no Senado, que teoricamente só voltariam de férias em março.

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