Milei encontra papa Francisco e leva alfajores e biscoitos para reatar laços
Presidente e pontífice se encontraram pelo segundo dia no Vaticano após ataques em campanha
Javier Milei e papa Francisco se encontram no Vaticano – Divulgação Imprensa do Vaticano via AFP
REUTERS/FOLHA DE S.PAULO
CIDADE DO VATICANO – O presidente da Argentina, Javier Milei, voltou a encontrar nesta segunda-feira (12), no Vaticano, seu compatriota papa Francisco. Ele levou doces e presentes numa tentativa de reatar os laços com o pontífice de quem tanto desdenhou.
Milei disparou insultos contra Francisco durante a campanha eleitoral argentina, chegando inclusive a chamar o papa de “imbecil que defende a justiça social”. Desde a vitória no pleito, porém, com dificuldade para angariar apoio no cenário doméstico, o ultraliberal mudou o tom.
“É o argentino mais importante da história”, disse Milei, referindo-se a Francisco, em entrevista publicada nesta semana. Para o encontro desta segunda, o presidente levou alfajores de doce de leite e biscoitos de limão de uma marca que o papa gosta, segundo o porta-voz da Presidência argentina Manuel Adorni.
Em troca, o presidente recebeu do papa um medalhão de bronze inspirado no Baldaquino de São Pedro, monumento situado sobre o altar da Basílica de São Pedro e que representa a harmonia entre o sagrado e o divino.
O encontro ocorreu enquanto a Argentina enfrenta sua pior crise econômica em décadas, com a inflação superando os 200%. O presidente recém-eleito ainda tem tido dificuldade para aprovar seu pacote de reformas no Congresso.
Milei e o papa conversaram sobre a situação econômica e política na Argentina, segundo o jornal La Nacion. Autoridades do Vaticano próximas ao pontífice disseram à publicação que a reunião foi “muito boa e amistosa”, o que pode marcar o começo de uma nova etapa de diálogos entre os dois.
“Reconsiderei algumas posições e, a partir deste momento, começamos a construir um vínculo positivo”, disse Milei após o encontro ao canal local TV Retequattro.
A reunião durou cerca de uma hora. Foi, portanto, mais longa do que o encontro do papa com Cristina Kirchner, Mauricio Macri e Alberto Fernández, antecessores de Milei. Também participaram do encontro desta segunda Karina Milei, irmã do presidente e secretária-geral da Presidência, a chanceler argentina, Diana Mondina, além de ministros. Fotografias divulgadas pelo Vaticano mostram os líderes se cumprimentando e sorrindo.
Francisco, que é ex-arcebispo de Buenos Aires, é alvo de críticas de alguns de seus compatriotas por não ter visitado sua terra natal desde que se tornou papa, em 2013. O pontífice, que sente dores no joelho e tem tido dificuldades de locomoção, disse que pode visitar a Argentina no segundo semestre.
Caso consiga acertar a visita, Milei poderá angariar apoio entre católicos conservadores, segundo analistas, que o ajudariam a pressionar pela aprovação das reformas. Durante o fim de semana, o presidente reforçou a importância da liderança moral de Francisco em um país de maioria católica como a Argentina.
O papa Francisco fala com equipe médica do hospital Gemelli, em Roma, em 2021, após se recuperar de cirurgia no cólon, feita para tratar uma Divulgação Vaticano – 11.jul.21/Reuters
No passado, o pontífice havia dito que não queria ser politicamente explorado por políticos argentinos. Na sexta-feira (9), o papa Francisco ainda afirmou que o “individualismo radical” infiltra a sociedade como um vírus. São palavras que podem entrar em choque com as ideias de livre mercado radical defendidas por Milei —o presidente já se definiu como um anarcocapitalista, filosofia ultraliberal que prega, entre outras coisas, a liberdade individual absoluta.
Milei e o papa Francisco já haviam trocado cordialidades no domingo (11), ao fim da missa de canonização da primeira santa argentina, Maria Antonia de Paz y Figueroa, uma leiga consagrada conhecida pelo apelido de “Mama Antula”. Em cerimônia ocorrida na Basílica de São Pedro, os líderes se abraçaram, sorridentes, no primeiro contato entre ambos no Vaticano.
Francisco, 87, está com dificuldade para andar. De sua cadeira de rodas, o papa disse a Milei ao cumprimentá-lo que ele havia “cortado o cabelo”. O ultraliberal respondeu que havia se arrumado para ver o pontífice e perguntou se poderia abraçá-lo e beijá-lo. Sorridente, Francisco respondeu que sim.