22 de novembro de 2024

Zé Geral

Rosildo Barcellos

Tudo começou na rua 13 de Maio, em 1995. Lá foi realizado o primeiro Sarau do Zé Geral, na noite de uma quarta-feira. Depois num Casarão, no bairro Amambaí, seguindo por uma casa na Esplanada Ferroviária, AABB e assim foram 15 endereços e mil e quinze edições até chegar na rua Pasteur 937, o endereço da cultura. E isso o fez o músico que é referência e ícone no estado e tornou a frase famosa “Sarau do Zé Geral”. Fui apresentado a ele por Zeca do Trombone, meu professor de violão, mas que me viu trocar o dedilhar das cordas por manusear as palavras. José Geraldo Ferreira, “Zé Geral”, que comemora seu aniversário, relembrando o nome da rua mais famosa da cidade (14 de julho), é um dos pilares do Morenismo.

O Morenismo surgiu para divulgar e valorizar o que é a Cultura, promovendo ações que contribuíram e ainda o fazem para a autoestima do cidadão da capital sobre a identidade regional que temos. É um movimento de afirmação, e de apreciação da arte sonora que produzimos.

Foto: O músico José Geraldo Ferreira, chegou a Campo Grande em 1989, e criou o ‘Sarau do Zé Geral’, em meados de 1997/Arquivo pessoal Zé Geral

Certamente que para esta nomenclatura não se pensou na criação de modelos e nem linhas, mas sim de afirmar: é de Campo Grande sim. Mesmo que tenha sua origem externa. É como a própria formação da cidade. São pessoas que trouxeram suas contribuições e aqui criaram características próprias e assim aconteceu com o nosso amigo Zé Geral que trouxe a simpaticíssima “Val” de Atibaia para o nosso mundo.

E de poesia e música se instituiu o Morenismo e Zé Geral, é o abraço que permanece no ar e ele abraçou e abarcou toda esta estrutura e tendências, fazendo com que por anos a fio pudesse parecer a única nesga de resistência com fulcro no trabalho deste violonista, compositor e cantor que resiste ao tempo como o cerne de aroeira.

Ele tem estrutura de palco, aparelhagem e pureza de propósitos. Além de uma capacidade intelectual invejável e que pude comprovar quando musicava poemas do livro da escritora Vanda Ferreira. Material literário que foi prefaciado pelo professor de Gramática, Adelino Brandão; residente na época em Paranaíba.

Zé Geral sabe que Campo Grande mistura influências de diversas etnias, principalmente dos vizinhos fronteiriços. Desbravada por mineiros, a capital, acolheu brasileiros de vários estados e a síntese de todas estas questões e nuances estão marcadas na alegria, na poesia e em seu tom musical. A impávida e intrépida poetisa Carmen Eugênio traduz os meandros de Zé Geral quando afirma: “. Não sei se quero pensar em dor ou atravessá-la. Não sei se quero me esquivar do vento forte, ou voar com ele. Meu verbo é ir. Vou indo… sempre… No reverso. Adverso. Atravesso a tempestade”.

Assim é o nosso ínclito Zé Geral: é a sombra da mangueira, são pegadas na grama, são as fotos expostas na parede, é a serenata de violão e voz, na porta da amada; é história, música, amor e poesia em fusão e difusão, que mostra a beleza sob todas as formas; e faz parte da nossa própria identidade cultural.

Vida longa para Zé Geral.

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