Alimentos que não são o que parecem
Wilson Aquino*
A indústria e comércio têm aumentado a substituição de ingredientes utilizados no preparo de alimentos, visando a diminuição do custo de produção e, consequentemente, a obtenção de maiores lucros. O problema é que muitos desses alimentos podem parecer inofensivos ou versões mais saudáveis dentro de sua categoria, porém, como são tão processados ou passam a ter ingredientes tão artificiais, acabam sendo uma armadilha para a saúde do consumidor.
O aumento é tanto do número de ingredientes como do volume que eles passam a compor em determinados alimentos. Além de possíveis prejuízos à saúde humana, são também uma afronta à economia do trabalhador brasileiro que acaba comprando “gato por lebre”.
O problema torna-se muito mais grave quando essas medidas são amparadas por lei e expressas nos produtos adquiridos pelo consumidor de maneira ardilosa, pois em muitos casos somente com uma lupa pode-se ler na embalagem a real composição do produto.
A maioria dos pães integrais, por exemplo, cujas embalagens estampavam com letras garrafais esse produto “100% integral”, foram obrigadas agora a mudar para “100% naturais”, depois que o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor – Idec constatou que a maioria deles é feita com farinha de trigo branca.
O frigorífico Swift, outro exemplo, está colocando no mercado “cortes mecanicamente amaciados” (congelados)com adição de solução de água, colágeno e aromas. Na picanha, o percentual dessa solução chega a 15% e nos bifes de coração de alcatra, 10%. Além da ingestão de produtos químicos, tem também a questão econômica pela adição de elevado percentual de água no produto.
Iogurtes que não são iogurtes também enganam o consumidor. Isto porque somente nas letras miúdas estão as informações de que se tratam de bebidas feitas à base de soro de leite: “Bebida láctea fermentada” e não iogurte, que é um produto bem diferente.
Por conta do arrocho na legislação, que aliás deveria ter sido há mais tempo e mais rigorosa em relação aos “ingredientes” utilizados no fabrico de alimentos, muitos produtos apresentam agora o termo “tipo”, já que não são o que parecem ou insinuam ser. É o caso da “Linguiça tipo calabreza”, que é feita de carne de aves e proteína de soja, ou da “Mussarela de Búfala” que contém até 80% de leite de vaca.
Foi um escândalo nacional recentemente quando se descobriu que o “Hambúrguer de picanha”, lançado no mercado por uma rede de alimentação, era na verdade, feito com carne comum de gado, triturado com carne de frango.
Tem muitos “requeijões” por aí também feitos com derivados do leite e de vegetais como amido e gordura vegetal.
O tradicional leite condensado ganhou uma nova versão econômica colocada no mercado pela Nestlé: “Mistura láctea condensada de leite, soro de leite e amido”. Como as embalagens se parecem e o sabor também, o consumidor acaba sendo enganado.
É preciso cuidado com o mel que não vem da abelha. Na leitura do rótulo o consumidor pode se surpreender com a real composição de muitos desses produtos à venda no mercado: Produtos à base de glicose ou melado de cana.
E aos apreciadores de azeite, cuidado! Têm muitos produtos no mercado que se passam por “azeite puro de oliva” mas que na verdade não passam de uma mistura que leva 80 a 90% de óleo de soja.
E para quem pensa que toda cerveja é de puro malte de cevada, ledo engano. O Idec levantou que muitas marcas brasileiras de cerveja são na verdade, produzidas à base de milho, sob a expressão: “cereais não maltados”. De acordo com o instituto, o milho aparece em mais de 50% da composição dessa bebida.
E como se não bastassem todas essas “fraudes” contra os consumidores, as indústrias também diminuíram a quantidade dos produto nas embalagens (papel higiênico diminuiu na metragem, tubo de creme dental menor, sabonetes diminuíram e os volumes de produtos nas caixas, como do sabão em pó, também diminuíram). Isso tudo sem redução de preços, que só aumentam. Abram os olhos consumidores!
*Jornalista e Professor