Cuidado com a música que ouvimos
Wilson de Aquino*
A música que ouvimos, que aprendemos a gostar, que permitimos que entre em nossa casa e que acaba caindo também no gosto de nossos filhos, pode não ser apenas entretenimento, mas sim uma influência significativa em nossas vidas. Se ruins devido às suas letras tendenciosas e maliciosas e melodias extravagantes e desarmoniosas, podem provocar grandes malefícios para todos, especialmente para as crianças em processo de formação de caráter, que deve ser alicerçado em princípios éticos, morais e espirituais sólidos.
Embora a ciência ainda não tenha estudado profundamente a influência da música na formação do indivíduo, já é sabido que a boa música, com letras e melodias edificantes, como hinos de louvor a Deus e músicas clássicas, pode provocar efeitos altamente positivos no comportamento e desenvolvimento de seres vivos. No campo, na produção leiteira, por exemplo, o uso da (boa) música tem surpreendido com resultados notáveis. Os animais ficam mais calmos, dóceis e produtivos. Da mesma forma, as plantas respondem positivamente em ambientes musicais, crescendo mais saudáveis e vigorosas.
Se boas músicas têm efeitos tão benéficos em animais e plantas, é razoável supor que também influenciam positivamente as pessoas, sobretudo as crianças, desde a gestação até o crescimento. Portanto, não há dúvida de que a música desempenha um papel vital na educação e no desenvolvimento humano, estimulando sentimentos nobres desde os primeiros momentos de vida. Minha filha, Maria Ritha, se alegrava ao dormir ao som de música clássica desde que nasceu. Sempre foi uma criança calma e feliz. Hoje, aos 30 anos, carrega o reflexo dessa boa educação e da boa música que sempre ouviu.
É imperativo separar o que é benéfico do que é prejudicial. Atualmente, ao sintonizarmos o rádio em busca de boa música, muitas vezes acabamos desligando devido à escassez de opções. A maior parte do que as emissoras oferecem são canções com letras vulgares que promovem traição, imoralidade, violência e até blasfêmia, entre outros temas negativos que não merecem nossa atenção.
Concordo plenamente com as palavras do saudoso escritor, dramaturgo e poeta Ariano Suassuna(+), que em uma de suas entrevistas criticou a qualidade da música brasileira, principalmente suas letras. Ele compartilhou um exemplo de uma música que demonstrava a decadência das letras contemporâneas e questionou como alguém poderia chamar um membro de uma banda popular, que tocava esse tipo de música, de “gênio” (conforme o noticiário). – Se assim for, que adjetivo daríamos para alguém como Beethoven? Questionou o poeta.
Infelizmente, a música popular contemporânea também inclui letras que fazem apologia ao uso de drogas, à violência e à banalização do sexo, entre outros temas prejudiciais e tudo isso, se levado para dentro de casa, acaba criando um clima pesado para a família. É responsabilidade dos pais introduzir a boa música em seus lares e ensinar as crianças, desde cedo, a serem seletivas na escolha do que ouvem. Além disso, é importante lembrar que temos o poder de criar músicas que expressem sentimentos nobres em relação ao próximo e à natureza, como muitas que temos hoje no mercado, de diversos gêneros musicais, contribuindo para um ambiente mais positivo ao nosso redor.
As Escrituras Sagradas não fazem referência direta a estilos musicais específicos, mas oferece princípios e diretrizes que podem ajudar a orientar nossas escolhas musicais para que sejam edificantes e de acordo com os valores cristãos, como podemos ver em Salmos (150:3-4) “Louvai-o com o som de trombeta; louvai-o conforme a excelência da sua grandeza. Louvai-o com o tamborim e a dança, louvai-o com instrumentos de cordas e com órgãos.” Ou em Colossenses (3:16) “Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria e cantem salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão a Deus em seu coração.”
Embora essas passagens não determinem quais estilos musicais são aceitáveis ou não, elas nos orientam a escolher músicas que glorificam a Deus, promovem valores morais e espirituais e edificam nossas vidas e as vidas daqueles ao nosso redor. A interpretação específica sobre o que constitui “boa música” pode variar entre as diferentes tradições e convicções individuais. Portanto, é importante buscar discernimento espiritual ao fazer escolhas musicais.
Deus nos deu a capacidade de escolha e a habilidade de criar sons de louvor e ações de graça em reconhecimento à Sua misericórdia, bondade, justiça, fidelidade e amor. E também sobre os mais nobres e saudáveis sentimentos humanos. É nossa responsabilidade usar esse dom para construir um mundo melhor, buscando o bem-estar, a perfeição e a salvação. Portanto, a música que escolhemos para ouvir não é apenas uma questão de gosto, mas também uma influência que molda nossas vidas e o caráter de nossos filhos. Cabe a nós, como pais e responsáveis, garantir que essa influência seja positiva e edificante.
*Jornalista e Professor