12 de novembro de 2024

Coletivo de judeus defende Lula e diz que petista externou ‘o que está no imaginário’

Manifesto é do grupo Vozes Judaicas por Libertação

Lula durante evento na Etiópia, no sábado (17) – Ricardo Stuckert/Divulgação Presidência

BLOG DA MÔNICA BÉRGAMO

FOLHA DE S.PAULO

SÃO PAULO – O coletivo Vozes Judaicas por Libertação elaborou uma nota em defesa do presidente Lula (PT) por ter comparado o que ocorre na Faixa de Gaza ao Holocausto. As falas do petista abriram uma crise diplomática com o governo israelense.

“A contradição do povo judaico ser ora vítima e agora algoz é palpável, tenebrosa e desalentadora. Lula externou o que está no imaginário de muitos de nós”, afirma o texto. E segue: “Apoiamos as colocações do presidente Lula e cobramos que a radicalidade de suas palavras seja colocada em prática”.

O coletivo diz que “a comparação entre genocídios é sempre delicada” e que “não há como estabelecer qualquer hierarquia”, mas afirma que as falas do chefe do Executivo “são de grande importância”.

“Se a criação e fundação de um Estado judaico foi uma medida de sobrevivência num mundo sitiado, ela logo se tornou um pesadelo. O Estado de Israel não trouxe emancipação verdadeira aos judeus pois a sua existência é mantida às custas da negação da autodeterminação dos palestinos”, afirma ainda o grupo.

O Vozes Judaicas por Libertação é integrado por cerca de 30 pessoas, entre professores, educadores, ativistas e empreendedores. O coletivo atua em defesa dos direitos dos palestinos ao seu território e diz não se sentir representado pelas entidades israelitas brasileiras.

Entre seus membros estão o professor da PUC-SP Bruno Huberman, a pesquisadora Beatriz Kalichman, a historiadora Branca Zilberleib e o ativista Yuri Haasz.

O grupo diz ainda que “as palavras têm poder”. “Se a forma como Lula se expressou na ocasião foi pouco cuidadosa —tropeçando justamente neste ninho de comparações forçadas— sua fala tem o objetivo de atingir a imaginação e provocar uma crise moral sobre Israel.”Maia Chmiel, cujos primos são mantidos reféns pelo Hamas em Gaza, segura cartaz com fotos deles durante evento no Clube Hebraica, na capital paulista, que reuniu familiares dos sequestrados; todos têm laços com a América do Sul

Maia Chmiel, cujos primos são mantidos reféns pelo Hamas em Gaza, segura cartaz com fotos deles durante evento no Clube Hebraica, na capital Danilo Verpa/Folhapress

O Vozes Judaicas por Libertação vai na contramão de outras entidades da comunidade judaica brasileira, inclusive de esquerda, que criticaram o petista.

Conib (Confederação Israelita do Brasil) disse que o governo Lula “abandona a tradição de equilíbrio e a busca de diálogo da política externa brasileira”. “Os nazistas exterminaram 6 milhões de judeus indefesos na Europa somente por serem judeus. Já Israel está se defendendo de um grupo terrorista”, afirmou a entidade.

A Federação Israelita do Estado de São Paulo também lamentou as declarações do presidente. O grupo Judeus Pela Democracia disse a fala do petista é uma “vergonha histórica” e que ele compara “judeus a seus maiores algozes, desrespeitando a memória de milhões de pessoas que pereceram sob a mão dos nazistas”.Veja, abaixo, a íntegra do manifesto do Vozes Judaicas por Libertação:

“Dando um passo além nas contínuas denúncias dos crimes cometidos por Israel contra os palestinos, o presidente Lula causou furor ao fazer uma comparação entre o que ocorre hoje em Gaza e o que Hitler fez com os judeus durante o nazismo.

A comparação entre genocídios é sempre delicada pois a experiência vivenciada por cada povo afetado é inigualável. Cada um representa uma narrativa singular e dolorosa na história das comunidades vitimadas. Logo, não há como estabelecer qualquer hierarquia entre genocídios. É impossível estabelecer uma métrica objetiva para determinar o ‘pior’ genocídio da história. Categorizar historicamente vítimas maiores ou menores é uma perigosa armadilha de reprodução de racismo.

A contradição do povo judaico ser ora vítima e agora algoz é palpável, tenebrosa e desalentadora. Lula externou o que está no imaginário de muitos de nós. Uma comparação que causa muita dor a judias e judeus de todo mundo, que tiveram as suas vidas cindidas pelo genocídio dos judeus na Europa, e agora veem um crime similar sendo cometido, supostamente em seu nome. Enquanto coletivo de judias e judeus, temos antepassados que foram vítimas do Holocausto nazista, e entendemos que nosso imperativo ético é nos posicionarmos contra o genocídio do povo palestino e contra a utilização da nossa defesa como justificativa.

Se a criação e fundação de um Estado judaico foi uma medida de sobrevivência num mundo sitiado, ela logo se tornou um pesadelo. O Estado de Israel não trouxe emancipação verdadeira aos judeus pois a sua existência é mantida às custas da negação da autodeterminação dos palestinos. As lideranças israelenses seguem promovendo um massacre contra palestinos e ainda ameaçam a vida de judeus e judias em todo o mundo. Israel representa hoje a maior fonte de insegurança para todos os judeus do planeta ao usar nossa identidade como fachada e justificativa para sua campanha de terror.

Por isso, defendemos e acreditamos que as palavras de Lula são de grande importância pois levantam questões relacionadas à urgência da ação, como um chamado definitivo dirigido a todos para agir diante do que ocorre em Gaza neste momento. Frente à incapacidade da ONU e de várias organizações internacionais em conter a violência perpetrada por Israel em Gaza, destaca-se a importância vital da postura demonstrada por líderes internacionais como Lula, que levantam suas vozes contra o que é já considerado por incontáveis especialistas como um genocídio contra o povo palestino.

As palavras têm poder. Se a forma como Lula se expressou na ocasião foi pouco cuidadosa – tropeçando justamente neste ninho de comparações forçadas – sua fala tem o objetivo de atingir a imaginação e provocar uma crise moral sobre Israel. O pedido de impeachment protocolado pelos deputados bolsonaristas é uma medida descabida, assim como as acusações de antissemitismo – cujo real objetivo é deslegitimar o governo e a diplomacia brasileira. Não acreditamos que judeus brasileiros estão em risco por causa de sua declaração.

Apoiamos as colocações do presidente Lula e cobramos que a radicalidade de suas palavras seja colocada em prática. Seria um gesto diplomático de relevância gigantesca romper todas as relações entre o estado brasileiro e Israel, em especial as relações militares que também fortalecem a barbárie em terras brasileiras, com a compra de armas e tecnologias de controle social que são usadas para atingir a vida do povo negro nas favelas. Convocar o embaixador brasileiro em Tel Aviv foi um passo ainda insuficiente nessa direção.

Por fim, convidamos a todas e todos, mas principalmente ao governo brasileiro a atender as demandas do movimento internacional de Boicote, Desinvestimento e Sanções (BDS), liderado pelas bases da sociedade civil palestina. O povo palestino tem pressa e nossas ações têm poder.”

Show ‘Pérolas Negras’ com Alaíde Costa, Zezé Motta, Eliana Pittman e participação de Rosa Marya Collin

As cantoras Alaíde Costa e Eliana Pittman
As cantoras Alaíde Costa e Eliana Pittman Mathilde Missioneiro/Folhapress

As cantoras Alaíde Costa, Eliana Pittman e Zezé Motta receberam convidados para o show “Pérolas Negras”, que elas apresentaram na semana passada no Teatro Paulo Autran, no Sesc Pinheiros, em São Paulo. A atriz Vera Mancini e o cantor Edson Cordeiro prestigiaram o evento.

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