24 de novembro de 2024

Remake live-action de Lilo & Stitch provoca debate sobre colorismo em Hollywood

Foto: Walt Disney Co./Everett Collection

Outro termo usado para discriminação racial, o colorismo é um problema em Hollywood e na indústria do entretenimento, com estrelas relatando perda de oportunidades por causa do tom escuro da pele

O sucesso de animação da Disney, “Lilo & Stitch”, está vai ganhar um filme live-action, mas uma decisão de escalação do elenco desencadeou um novo debate sobre colorismo em Hollywood.

Alguns fãs ficaram desapontados depois que o The Hollywood Reporter informou, na semana passada, que Sydney Agudong foi escolhida para interpretar Nani, a irmã mais velha e tutora legal de Lilo.

Nascida e criada no Havaí, Agudong é miscigenada. Embora não esteja claro se ela tem herança havaiana, as críticas se concentraram na questão do colorismo — na versão animada de 2002, Nani tem a pele escura e características indígenas distintas, enquanto a atriz tem uma pele mais clara.

O Havaí tem a maior proporção multiétnica de pessoas dos EUA, devido à história do colonialismo nas ilhas, é comum que os residentes tenham uma combinação de brancos, asiáticos e havaianos nativos.

OniMasai Connor, que mora em Oahu e é negra e havaiana, explicou que isso significa que há muitos havaianos com pele mais clara, e ter pele mais clara não torna uma pessoa menos havaiana.

Mas, ao escolher um ator ou atriz de pele clara para interpretar um personagem que originalmente tinha pele escura, a Disney está reforçando noções profundamente enraizadas sobre quais características são consideradas aceitáveis ou bonitas na sociedade, acrescentou ela.

“Meu problema com o elenco é o fato de vivermos em uma sociedade supremacista que privilegia a pele clara, portanto esse elenco contribui para um nível de apagamento”, escreveu ela à CNN.

“Vemos muitas vezes, em todos os gêneros de cinema, histórias baseadas em pessoas de pele escura na vida real, apenas para serem interpretadas por alguém mais claro em um filme”.

A Disney, assim como os representantes de Agudong, não responderam aos pedidos de comentários.

Por que alguns acham que a cor da pele de Nani é relevante
O novo “Lilo & Stitch” é baseado em um filme de animação e Nani é um personagem fictício do longa. Mas, ao contrário de “A Pequena Sereia” — que está enraizada na mitologia, apesar de receber uma reação racista sobre o elenco de Halle Bailey no remake live-action – “Lilo & Stitch” se baseia em uma cultura e pessoas muito reais.

A identidade havaiana de Nani e Lilo, assim como seu tom de pele, são importantes para a história, disseram Connor e outros. Por exemplo, uma cena do filme de animação mostra Nani caracterizando o luau onde ela trabalha como um “luau falso e estúpido” — um aceno de como a indústria do turismo explorou os nativos havaianos e seus costumes.

“Nani, trabalhando no ‘luau falso’ sozinha, e até mesmo usando a frase ‘luau falso’ para descrever esse trabalho, foi uma declaração agressivamente política, envolvendo colorismo, indigeneidade e a história específica do colonialismo que os EUA impuseram à nação do Havaí”, escreveu um usuário do Twitter.

Outro ponto importante da trama do filme gira em torno da precária situação econômica de Nani. Ela é a única cuidadora de Lilo desde que seus pais morreram em um acidente de carro.

Mas enquanto o companheiro de Lilo, Stitch, causa caos em seus vários locais de trabalho, Nani luta para manter um emprego e é repetidamente avisada por uma assistente social de que pode perder a custódia de sua irmã.

O enredo ecoa a crise da vida real de crianças nativas sendo removidas de suas casas, bem como as disparidades raciais no sistema de bem-estar infantil dos Estados Unidos.

“O conflito que ocorre em Lilo & Stitch sobre o estado colonialista tentando separar essa pequena família nativa havaiana ‘da quebrada’, se torna mais aparente por ambas serem garotas de pele mais escura”, escreveu outro usuário do Twitter. “Escolher uma havaiana de pele mais clara para interpretar Nani interfere nisso”.

O colorismo é difundido em Hollywood
O colorismo, outro termo usado para discriminação racial, tem sido um problema em Hollywood e na indústria do entretenimento em geral. Estrelas como Viola Davis e Lupita Nyong’o têm falado sobre a perda de oportunidades por causa de sua pele escura, enquanto outras, como Zendaya e Thandiwe Newton, reconheceram os privilégios de ter pele mais clara.

O live-action “Lilo & Stitch” é apenas o mais recente de uma longa linha de projetos que enfrentaram acusações de colorismo. Uma conversa semelhante ocorreu durante o remake de “Aladdin” da Disney, quando Naomi Scott, que é descendente de ingleses e indianos, foi escalada como a princesa Jasmine.

“Por que, ao escalar a esposa de um terrorista ou um vilão das sérias como Jack Ryan ou Homeland, parece fácil encontrar uma mulher morena escura ou do Oriente Médio para o papel, mas ao escalar uma princesa da Disney, os diretores e os agentes de elenco não conseguem?”, Erum Salam escreveu em um artigo de 2019 para o The Guardian.

Da mesma forma, o reboot de “Gossip Girl” foi criticado pelo fato de que todas as suas estrelas negras serem de pele clara. Aadaptação cinematográfica de Lin-Manuel Miranda de “In the Heights” também foi criticada por sua falta de peles negras e atores afro e latinos em papéis principais.

“Gossip Girl” ganhou uma nova versão na HBO Max, enquanto “In the Heights” foi distribuído pela Warner Bros Pictures. Ambas as empresas compartilham a controladora Warner Bros Discovery com a CNN.

Connor disse que está preocupada, pois a escalação de uma atriz de pele clara para o papel de Nani em “Lilo & Stitch” pode aumentar as percepções errôneas sobre a aparência dos havaianos. Como uma mulher negra e havaiana, ela costuma sentir que os outros não a veem como havaiana por causa de seu tom de pele. É por isso que uma atriz de pele mais escura, interpretando Nani, teria sido significativo.

“A questão realmente não é, ‘Ela é o suficiente?’ É ‘Eu sou o suficiente?’ e isso é lamentável, considerando que a animação original fez um trabalho maravilhoso em fazer com que TODOS nós nos sentíssemos vistos, não importa o tom de pele”, diz Connor. “É realmente uma perda, sem culpa da própria Agudong”.

Agudong não é culpada pelos problemas sistêmicos que há muito atormentam o setor, disse Connor. Embora Connor esteja desapontada, ela espera que o remake de “Lilo & Stitch” permaneça fiel ao original, que ela tanto amou enquanto crescia. E disse que ainda está ansiosa para ver o filme quando for lançado.

** Com informações da CNN Brasil

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