Acusado de 24 crimes eleitorais, Marcelo Iunes pode terminar o ano na cadeia
O prefeito corumbaense também pode ficar inelegível por oito anos, caso seja condenado pelas irregularidades cometidas nas eleições de 2020
Prefeito de Corumbá, Marcelo Iunes (PSDB) denunciado ao MPE por crime eleitoral (Foto: Arquivo)
Jackeline Oliveira
O prefeito de Corumbá, Marcelo Aguilar Iunes (PSDB), foi denunciado pelo MPE (Ministério Público Estadual) ao TRE-MS (Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul), por meio da Procuradoria Regional Eleitoral, pelos crimes de corrupção eleitoral e falsidade ideológica eleitoral, com a finalidade de obter votos, que garantiram sua reeleição em 2020.
Caso a Justiça concorde com a compra de votos, Iunes pode ser condenado a até nove anos de prisão, pagamento de multas, além de oito anos de inelegibilidade.
As investigações apontam que o prefeito cometeu crime eleitoral pelo menos 24 vezes, com a participação do servidor comissionado Marconi de Souza Junior, conhecido como Macaco, assessor do prefeito e da secretária-adjunta de Saúde, Mariluce Gonçalves Leão, responsável pela Central de Regulação da Secretaria Municipal de Saúde.
Dinheiro, apreendido junto a listas com nomes de pessoas, foi encontrado no porta-luvas do carro de Marconi (Foto: Reprodução)
Na denúncia, o procurador regional eleitoral Pedro Gabriel Siqueira Gonçalves revela o “modus operandi” da compra de votos, que variava entre entrega de dinheiro, cestas básicas, remédios e também se dava através da realização ou antecipação de exames e procedimentos médicos, em sua maioria, realizados no laboratório Citolab, laboratório este credenciado para realização de exames laboratoriais de cidadãos corumbaenses encaminhados pelo órgão de saúde municipal.
Na denúncia foram anexados prints de conversas pelo WhatsApp, no qual Marcelo troca mensagens com uma mulher identificada como Isabel/Kelly Bola que avisa que conseguiu fazer exames e agradece, confirmando que no dia da eleição o voto “é 45”.
Print de conversa no WhatsApp entre Marconi e Isabel (Foto: Reprodução)
De acordo com a Procuradoria Regional Eleitoral, o esquema funcionava da seguinte forma: interessados na captação ilícita de votos e em apoio político, vereadores e candidatos a vereadores, além do próprio prefeito, recebiam pedidos de dinheiro ou outras vantagens vindas de eleitores e encaminhavam as demandas para Marconi, operador do esquema.
Vale ressaltar que o laboratório envolvido no esquema de compra de votos, em 2020, foi alvo da PF (Polícia Federal). Até o ano de 2017, o laboratório tinha dois proprietários, José Batista Aguillera Iunes e Amanda Cristiane Balancieri Iunes, respectivamente irmão e esposa do prefeito.
Pelos crimes denunciados, caso seja condenado pela Justiça Eleitoral, o prefeito pode pegar até quatro anos de reclusão e pagamento de 5 a 15 dias de multa pelo Artigo 299 e até cinco anos de reclusão e pagamento de 5 a 15 dias de multa pelo Artigo 350.
Operação Mercês – No dia 4 de novembro de 2020, uma semana e meia após as eleições municipais, a Polícia Federal abordou Marconi, que conduzia um Prisma com placas GAA-035, quando ele saía do diretório de campanha eleitoral do PSDB em Corumbá.
Na ocasião, os agentes encontraram uma planilha de dados, contendo número do título de eleitor, seção e zona eleitoral de dezenas de eleitores corumbaenses, R$ 7.750,00 em espécie, divididos em porções de R$ 250,00 cada, listas de pessoas contendo informações de nome, telefone e bairro, material de campanha dos candidatos a prefeito Marcelo Iunes e a vereador Yussef Salla, cópia da requisição de exame médico de ultrassom dos ombros, cotovelos e punhos para Angélica Carolina Gaete Pinho, requisitado pela médica da Secretaria de Saúde de Corumbá/MS, e cópia da Solicitação de Assistência Especializada e Autorização de Procedimentos Ambulatoriais em nome de Carolina Barrios Padilha, além disso, foi encontrado mais dinheiro no bolso de Marconi.
Dinheiro encontrado no bolso de Marconi durante abordagem da Polícia Federal (Foto: Reprodução)
Macaco, como é conhecido, tentou destruir o aparelho celular ao ser conduzido para delegacia após abordagem. Com a quebra de sigilo telefônico dele, foram encontrados indícios da existência de uma associação criminosa composta por agentes públicos e políticos que atuavam praticando crimes eleitorais, em especial, compra de votos em Corumbá.
Na denúncia ainda consta que o prefeito omitiu “sete vezes, em documento público, declaração que devia constar, para fins eleitorais, consistente na contratação para serviços de cabos eleitorais Amanda Damasceno Castilho, Antônio Marcos da Silva Gonçalves, Andrea Cristina de Amorim Martins, Ranna Naara Burton Cairo, Lucinéia dos Santos, Maria Alves da Costa e Kátia Mercado Gonçalves”.
Procurado pela reportagem, o prefeito Marcelo Iunes informou pelo WhatsApp ser inocente. “Vou esperar ser intimado e me colocar a disposição da Justiça para responder e provar minha inocência”.
Campo Grande News