Obras para diminuir atropelamentos no Pantanal finalmente vão sair do papel
Palco de atropelamentos da fauna sul-mato-grossense, o trecho da BR-262, entre Anastácio e Corumbá finalmente verá sair do papel o chamado “Plano de Mitigação de Atropelamentos de Fauna e Incremento de Conectividade”, com passagens subterrâneas e aéreas com intuito de diminuir os acidentes que vitimam antas; tamanduás; primatas, entre outros animais.
Parceria da empresa ViaFAUNA com o Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS), o Plano teve aprovação, na última semana, do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e da Coordenação de Licenciamento Ambiental e Transportes (Cotra).
Essa Coordenação integra a diretoria de Licenciamento Ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA), com sede em Brasília.
Conforme publicado pela ViaFAUNA, a “boa notícia” da aprovação na íntegra é considerada “um marco para as rodovias do Brasil”, apontando o potencial do Plano de Mitigação em salvar vidas tanto humanas quanto animais.
Como bem complementa a página do projeto Bandeiras e Rodovias do ICAS, o apoio do Instituto se deu através da experiência obtida pelo monitoramento há mais de uma década (desde 2013) sobre as colisões que envolvem a fauna sul-mato-grossense na 262.
Medidas específicas
Através do monitoramento de 12 meses feito pela ViaFAUNA, foram identificados “pontos quentes” (“hotspots” do termo em inglês) de maior concentração de acidentes, traçando medidas específicas para cada localidades, desde cercamentos até passagens aéreas e subterrâneas.
Doutora em Ecologia e Conservação e com 20 anos de carreira no Ibama, a superintendente estadual, Joanice Lube Battilani, esclarece algumas dessas medidas que já estão desenhadas há mais de um ano.
“Passagens subterrâneas serão ampliadas para mais de 40. Aí tem as aéreas (seis no total), no caso lá nas morrarias do Urucum, que são para os primatas, que vão aumentar também… medidas que vêm sendo discutidas desde o ano passado”, cita a Dra.
Joanice explica que essas chamadas “passagens inferiores” se aproveitam de caminhos naturais, vias por onde correm águas vazantes por meio de dutos, para traçar um caminho seguro para grandes mamíferos, sendo um dos quatro pilares do Plano:
- Reinstalação e ampliação das faixas das cercas;
- Passagens inferiores;
- Passagens superiores e
- Supressão da vegetação.
“Visa principalmente mamíferos grandes, como tamanduás, antas e até onças que foram atropeladas. Mas tem o foco também nos animais maiores, além das passagens superiores, para permitir o fluxo de primatas” diz.
Ainda em julho de 2023, Joanice apontou ao Correio do Estado que uma das medidas para reduzir o volume de atropelamentos consistia na supressão de milhares de árvores, mantidas somente próximo de córregos, 30 metros de cada lado.
Ela ressalta, conforme previsto nas normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) – de que zonas de faixas de domínio da União não podem haver obstáculos – que inclusive as vegetações contribuem para esses acidentes e atropelamentos até de fauna, e a supressão irá, de fato, acontecer com as devidas autorizações.
“Principalmente na base do aterro, para melhorar a visibilidade; mas também a instalação das cercas – que serão readequadas e colocadas na base do aterro, bem como ampliação do número dessas contenções em ambos os lados – e passagens inferiores. Tudo com autorização do IBAMA”, complementa a Dra.
Ressaltando que, para além da autorização, já estão previstos destinação e aproveitamento desse material lenhoso, ela cita que onde há córregos naturais será mantida a faixa de Área de Preservação Permanente (APP).
Como bem acompanhado pelo Correio do Estado, no período entre 2011 e 2021, a média de atropelamentos de animais saltou de 1,67 para 10,5 diários em uma década.
Esse trecho vê um crescente aumento no tráfego de veículos, que transitam pela BR-262 transportando minério, também com salto de 300 para 800 por dia.
Com fluxo crescente ao passar dos anos, várias medidas já estavam previstas para serem adotadas nos quatro anos entre 2015 e 2019, porém, apenas 16 km de telas, duas passagens superiores e 12 radares tinham sido instalados.
Importante ressaltar que o DNIT foi acionado, para que detalhasse os locais desses “hotspots” e onde serão instaladas quais medidas específicas, porém, até o fechamento desta matéria não foi obtido retorno.
Redação: Impacto Mais – Mirtes Ramos
Fonte e foto: Correio do Estado