10 de dezembro de 2024

Protesto por água tem tiros, preso e gritaria entre indígenas e PM

Policiais militares entraram em conflito com os indígenas que protestam contra a falta de água nas aldeias de Dourados, na manhã desta quarta-feira (27). A ação já resultou em pelo menos um indígena preso e feridos. Vídeos do local mostram o avanço dos policiais do Batalhão de Choque no território indígena, disparos e gritaria. 

O conflito acima ocorreu por volta das 8h, no território que abrange as aldeias Jaguapiru, Bororó e Panambizinho.

Desde segunda-feira (25), os indígenas bloqueiam cinco pontos de acesso à rodovia MS-156, em Dourados, como forma de protesto pela falta de água, um problema que se arrasta há anos na região.

Nesta manhã, os policiais tentaram desobstruir a interdição realizada na ponte sobre o córrego Jaguapiru. Os indígenas resistiram e os ânimos se exaltaram. Imagens do local mostram um morador com a cabeça ferida, a cápsula de uma arma e indígenas sendo contidos pelos PMs.

Também houve confronto em outro ponto de bloqueio, na rotatória da BR-156 que dá acesso às aldeias. 

Força “desproporcional”

De acordo com os indígenas, os policiais agiram de forma truculenta.

Chegaram atirando com bala de borracha, com gás. Tinha muita criança aqui, idosos, foi uma força muito desproporcional. A força usada hoje pela manhã contra um povo que está lutando por água foi uma força desproporcional, uma força abusiva sobre pessoas indefesas que estavam desarmadas, apenas querendo água, somente isso.”

Anderson Mamédio, professor e morador da região.

Apesar do conflito, a manifestação continua: os indígenas garantem que vão manter os bloqueios enquanto o fornecimento de água não for estabelecido.


Eu falei para eles que nós íamos ficar aqui, nós não vamos arredar o pé daqui, até porque essa ação da polícia sobre nós só fez fortalecer mais ainda o movimento e não enfraquecer.”

Anderson Mamédio, professor e morador da região.

O que diz o governo de MS

Em nota, a SEC (Secretaria de Estado de Cidadania) do governo de Mato Grosso do Sul afirmou que a Polícia Militar teve de agir após esgotadas todas as possibilidades de negociação. Confira a nota na íntegra:

A Polícia Militar de Mato Grosso do Sul, esgotadas todas as vias de negociação, e para garantir os direitos constitucionais, agiu na manhã desta quarta-feira (27) para desobstruir as rodovias estaduais que estavam bloqueadas. Com apoio do Corpo de Bombeiros Militar e de equipes da Agesul, removeram entulhos e apagaram focos de incêndio nas pistas. As forças de segurança manterão efetivo para garantir paz em todo o território sul-mato-grossense. O governo estadual reforça seu compromisso com a transparência, refutando iniciativas político-eleitoreiras, e age em prol de um caminho de justiça e respeito. Em tempo, o governo de MS, por meio da SEC, se manteve em contínuo diálogo com todos os envolvidos em busca, sempre, de uma solução pacífica, e lamenta episódios de agressões e enfrentamentos.”

O que diz a Sejusp

Desobstrução da via, para garantir o direito constitucional de ir e vir de todos. Há preso por desacato, desobediência e agressão aos policiais e um trator apreendido.”

O que diz a Sesai

O Ministério da Saúde, por meio da Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) e do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) Mato Grosso do Sul, mantém um contrato para a distribuição de mais de 70 mil litros de água potável por semana via caminhões-pipa e articula com a Prefeitura de Itaporã o fornecimento de 100 mil litros de água por dia, sendo 50 mil destinados a Jaguapiru e 50 mil a Bororó. Além disso, estão em andamento a perfuração de dois novos poços, um em cada aldeia, em parceria com a Prefeitura Municipal de Dourados e a Secretaria de Estado e Cidadania, com previsão de conclusão em até 40 dias.

A Sesai também negocia uma solução conjunta com a Secretaria de Saneamento Ambiental do Ministério das Cidades, com o Governo do Estado de Mato Grosso do Sul e a Sanesul. A proposta inclui a extensão da rede de abastecimento que atende a região urbana de Dourados e a formalização de convênios para operação e manutenção do sistema, visando soluções estruturais e de longo prazo.

Embora as comunidades já contem com 14 sistemas simplificados de abastecimento de água, esses não atendem plenamente à demanda local devido a altos índices de desperdício e uso inadequado da água tratada. As ações emergenciais realizadas têm o objetivo de minimizar os impactos imediatos enquanto soluções definitivas estão sendo implementadas.

Redação: Impacto Mais – Mirtes Ramos

Fonte: Portal Primeira Página

Fotos: Thalyta Andrade/Redes sociais

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