6 de novembro de 2024

Morre, aos 97, Luiza Trajano Donato, a fundadora do Magazine Luiza e tia de Luiza Helena, sua sucessora

Tia da empresária Luiza Helena Trajano, ícone do varejo, ela morreu em casa de causas naturais

.Luiza Trajano, fundadora do Magazine Luiza, que morreu aos 97 anos
Luiza Trajano, fundadora do Magazine Luiza, que morreu aos 97 anos – Divulgação

MARCELO TOLEDO

FOLHA DE S.PAULO

RIBEIRÃO PRETO – Fundadora do Magazine Luiza, Luiza Trajano Donato morreu nesta segunda-feira (12), aos 97 anos, em Franca (a 400 km de São Paulo). Todas as lojas em Franca permanecerão fechadas hoje.

Tia da empresária Luiza Trajano, ela morreu em sua própria casa, de causas naturais. Sempre apontada como uma talentosa vendedora, teve papel primordial na trajetória empresarial que a família empreendeu a partir do surgimento da primeira loja.

Luiza Trajano Donato, também conhecida como Tia Luiza, nasceu em 20 de setembro de 1926 e foi casada com Pelegrino José Donato, que morreu em 2018 aos 94 anos e com quem fundou a tradicional marca varejista.

Após o casamento, em 1956, o casal decidiu investir as economias na compra de uma humilde loja de presentes em Franca, A Cristaleira, que veio a dar origem ao Magazine Luiza, no ano seguinte.

O nome da rede foi escolhido em um concurso promovido em uma emissora de rádio. A ideia era batizar o estabelecimento a partir de sugestões dos ouvintes, que decidiram indicar justamente o nome da vendedora, já muito conhecida na cidade paulista.

“Em uma época em que as mulheres eram criadas para se dedicarem, exclusivamente, à casa e à família, ela ousou ao batalhar para realizar o sonho de empreender”, diz trecho de comunicado da varejista.

A rede, com o passar dos anos, começou a crescer de forma gradual. Em 1976, comprou as Lojas Mercantil e abriu as primeiras filiais no interior do estado.

Os dois comandaram os negócios até o começo dos anos 1990, quando a sobrinha Luiza Helena, que já trabalhava desde a adolescência na empresa, foi escolhida por Tia Luiza para assumir a empresa, o que proporcionou a expansão da rede de lojas —até então centrada em São Paulo e Minas Gerais— e a transformou em uma das maiores da América Latina.

Com Luiza Helena, por exemplo, foram criadas as primeiras lojas virtuais, o que iniciou a digitalização do grupo, hoje composto por mais de 30 empresas.

Quando o Magazine Luiza inaugurou quase 50 lojas simultaneamente em São Paulo, em 2008, mesmo afastada do dia a dia da rede, Luiza Trajano Donato se encontrou com funcionários e pediu que atendessem todos de forma igualitária.

“Quero pedir a vocês, como boa vendedora que fui, para sempre atender o freguês da melhor maneira possível, sem olhar se ele é branco, preto, pobre, rico, bonito ou feio. Atender com todo o carinho, não importa se um esteja usando salto e outro chinelo de dedo. Atender com educação, não tapear o cliente, não mentir de jeito nenhum. Se vocês quiserem crescer na vida, sejam sempre sinceros e honestos”, disse.Consumidores na loja da rede Magazine Luiza, na marginal Tietê, em São Paulo; rede fez promoção com produtos que chegaram até 70% de desconto Consumidores na loja da rede Magazine Luiza, na marginal Tietê, em São Paulo; rede fez promoção com produtos que chegaram até 70% de desconto _  Eduardo Anizelli

O IPO (oferta inicial de ações) do Magazine Luiza ocorreu em 2011, ano em que comprou a rede Baú da Felicidade.

Quatro anos depois, a sobrinha Luiza Helena deixou o cargo de CEO para seu filho Frederico e passou a ocupar o posto de presidente do conselho.

A receita líquida do Magazine Luiza no terceiro trimestre de 2023 foi de R$ 8,6 bilhões. Em dezembro do ano passado, a empresa lançou o Magalu Cloud, a primeira nuvem em hiperescala no país, com objetivo de ampliar a digitalização de companhias de todos os portes e reduzir de 30% a 75% os custos das empresas no Brasil.

Quando a fundadora completou 97 anos, em setembro, Luiza Helena foi às redes sociais homenagear a tia, qualificada por ela como uma mulher de “luta, força, trabalho, determinação”.

https://www.instagram.com/p/Cxaba0KAOWV/embed/captioned/?cr=1&v=12&wp=270&rd=https%3A%2F%2Fwww1.folha.uol.com.br&rp=%2Fmercado%2F2024%2F02%2Fmorre-aos-97-luiza-trajano-donato-a-fundadora-do-magazine-luiza-e-tia-de-luiza-helena.shtml#%7B%22ci%22%3A0%2C%22os%22%3A22727.200000047684%2C%22ls%22%3A22276.100000023842%2C%22le%22%3A22688.5%7D

Abalada, segundo sua assessoria de imprensa, a empresária não se manifestou ainda sobre a morte da tia.

O prefeito de Franca, Alexandre Ferreira (MDB), disse que a fundadora do Magazine Luiza “contribuiu para colocar o nome de Franca em destaque nacional”.

“Foi uma mulher visionária e que muito fez por Franca, não apenas no desenvolvimento, como também em causas sociais. Deixo aqui meu profundo pesar a todos os familiares”, disse.

Luiza Trajano Donato não deixa filhos. O corpo será velado no Velório São Vicente de Paulo na manhã desta segunda, e o enterro ocorrerá às 16h, no Cemitério da Saudade.

“A empresa criada por tia Luiza demonstrou, ao longo de seus mais de 65 anos, uma incrível capacidade de se transformar, se renovar sem abrir mão de seus valores. E, assim, perenizar o sonho e cumprir a missão de sua fundadora”, conclui o comunicado da rede sobre a fundadora.

Leia a íntegra do comunicada da Magalu:

Morreu hoje, aos 97 anos, em Franca, no interior de São Paulo, Luiza Trajano Donato, fundadora do Magazine Luiza, uma das maiores plataformas de varejo do Brasil. Tia Luiza, como era mais conhecida, nasceu em 20 de setembro de 1926, no seio de uma família de comerciantes. Em uma época em que as mulheres eram criadas para se dedicarem, exclusivamente, à casa e à família, ela ousou ao batalhar para realizar o sonho de empreender.

Aos 31 anos, recém-casada com Pelegrino José Donato, seu companheiro de toda a vida, investiu a economia feita ao longo de anos de trabalho no varejo para comprar seu próprio negócio. A Cristaleira, uma loja de presentes localizada no centro de Franca, logo seria rebatizada pelos fregueses de Magazine Luiza, em homenagem àquela que era considerada a melhor vendedora da cidade. Nascia, assim, o Magalu, o grande legado deixado por Luiza Trajano Donato.

Muitos dos valores que hoje regem os mais de 30 mil colaboradores do Magalu são reflexo do jeito de pensar e de agir de sua fundadora. Tia Luiza tinha uma energia quase inesgotável para o trabalho. Não importava se a tarefa a ser feita era empacotar um produto ou descarregar um caminhão de mercadorias. Era uma vendedora apaixonada, que conhecia as necessidades, os gostos e as possibilidades de seus clientes. Cada um deles era e deveria ser tratado como alguém especial, como a razão de ser do negócio.

Foi assim que Luiza deu as boas-vindas aos funcionários das primeiras 50 lojas abertas simultaneamente na cidade de São Paulo, em 2008: “Quero pedir a vocês, como boa vendedora que fui, para sempre atender o freguês da melhor maneira possível, sem olhar se ele é branco, preto, pobre, rico, bonito ou feio. Atender com todo o carinho, não importa se um esteja usando salto e outro chinelo de dedo. Atender com educação, não tapear o cliente, não mentir de jeito nenhum. Se vocês quiserem crescer na vida, sejam sempre sinceros e honestos”.

Com sua narrativa simples, ela sintetizou a missão daquela que é hoje uma das maiores empresas do país: incluir, ao trabalhar para que o maior número possível de brasileiros tenham acesso a produtos e serviços que melhorem suas vidas.

Luiza Trajano Donato não teve filhos. Durante quase toda a vida dividiu amor, atenção e energia entre o Magazine Luiza e sua família. No início da década de 1990, escolheu uma sobrinha —Luiza Helena Trajano — como sucessora à frente dos negócios. Na época, o Magalu era uma típica rede de varejo de eletroeletrônicos e móveis familiar, com lojas localizadas, principalmente, em cidades de São Paulo e Minas Gerais. Sob o comando de Luiza Helena, hoje presidente do Conselho de Administração, o Magazine Luiza tornou-se uma varejista nacional, de capital aberto e dona de uma das culturas corporativas mais admiradas do país. A empresa criada por Tia Luiza demonstrou, ao longo de seus mais de 65 anos, uma incrível capacidade de se transformar, se renovar sem abrir mão de seus valores. E, assim, perenizar o sonho e cumprir a missão de sua fundadora.

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