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Alemanha fecha suas últimas usinas nucleares: entenda os motivos e os pontos de preocupação

País chegou a ter 19 reatores em funcionamento que atenderam, no auge, a 30% da demanda energética do país. Ativistas ambientais celebram a desativação, mas Alemanha agora aumentou sua utilização do carvão para geração de energia.

Depois de décadas de protestos de ativistas e sob uma preocupação ainda atual sobre sua independência energética, a Alemanha fechou no sábado (18) suas três últimas usinas nucleares: Isar 2, Neckarwestheim e Emsland.

O medo de acidentes como o ocorrido no Japão e a busca por fontes renováveis estão entre os principais motivos da decisão tomada pelo atual governo alemão, formado por uma coalizão de social-democratas, verdes e liberais. Apesar da conclusão do processo, ele encontrou críticos, sobretudo entre os opositores conservadores.

☢️ Contexto: Os reatores desligados neste mês forneciam 6% do total de eletricidade consumida no país. Em 1997, esse número chegou a corresponder a 30% com o funcionamento de 19 reatores de usinas nucleares.

O desligamento dessas três últimas usinas estava previsto para 31 de dezembro de 2022, mas acabou adiado por causa da guerra da Ucrânia. O ato representou “o fim de uma era” que começou em 17 de junho de 1961, quando a usina de Kahl, na Baviera, entrou em funcionamento.

Abaixo, entenda os motivos que levaram ao fechamento dessas usinas, as principais críticas a esse modelo de produção de energia e os dilemas que a Alemanha ainda enfrenta:

Lei, protestos e risco dos resíduos

Lei nacional orientou fechamento: Desde 2002 já há havia discussões a respeito e foi aprovada uma lei para a retirada dessa fonte energética do país. Ao todo, o processo de eliminação gradual da energia atômica do país durou mais de 20 anos. Desde 2003, a Alemanha desligou 16 reatores.

“Os riscos ligados à energia nuclear são, definitivamente, não administráveis”, disse a ministra do Meio Ambiente, Steffi Lemke.

Protestos aceleram processo: Em 2011, após o acidente nuclear em Fukushima, quando mais de 50 mil alemães foram às ruas para exigir o fechamento das usinas nucleares do país, o governo alemão – então sob o comando da chanceler Angela Merkel (CDU) – anunciou o acordo para o fechamento de todas as usinas até 2022.

Gestão de resíduos era (e ainda é) preocupação: Uma das principais vozes contra as usinas, o Greenpeace afirma que Alemanha não possui um único depósito seguro para armazenar resíduos nucleares e que a construção de novas usinas nucleares só agravaria esse problema.

“A energia nuclear forneceu eletricidade por três gerações, mas seu legado permanece perigoso por 30.000 gerações”, disse Lemke.

Alto custo da energia nuclear vira argumento: O Greenpeace afirma ainda que a energia nuclear é cara e que mais da metade do urânio usado na produção de energia nuclear é importado de países como Rússia, Cazaquistão e Uzbequistão.

Independência energética e matriz ‘suja’
Além dos pontos que embasaram o fechamento, há questões internas que motivam preocupação entre os alemães, sobretudo entre os ligados à oposição. E outros pontos de atenção são comuns até aos ambientalistas:

Risco de escassez: A decisão de desativar todos os reatores é avaliada com ressalvas sob alguns aspectos, entre eles o contexto que aponta que, embora haja uma urgência para a migração para fontes de energia mais limpas, a guerra na Ucrânia provocou escassez de gás, matriz energética proveniente da Rússia.Sistemas de calefação: O principal temor era de que a população ficasse desabastecida dos sistemas de calefação durante o inverno e de que as fábricas precisassem parar. Apesar dos temores, a estação não foi tão rigorosa e o gás russo foi substituído por outros fornecedores.

Matriz “suja’: De maneira contraditória, a Alemanha reativou várias usinas elétricas a carvão, embora ainda pretenda eliminar essa fonte de energia entre 2030 e 2038. A ativista Greta Thunberg foi detida no início do ano ao protestar contra a demolição de uma vila para reativação de uma das minas de carvão.
Peso do carvão: No país, que é o maior emissor de CO2 da União Europeia, o carvão continua representando um terço da produção de eletricidade, com um aumento de 8% no ano passado para compensar a interrupção do fornecimento de gás.

Segundo o chanceler alemão, Olaf Scholz, será necessário instalar de quatro a cinco turbinas eólicas por dia nos próximos anos para atender as necessidades energéticas. Atualmente, 44% da eletricidade na Alemanha vem de fontes renováveis, segundo o Departamento Federal de Estatística.

Decisão não é unânime
A decisão encontrou opositores no campo político e também entre alguns cientistas.

Políticos conservadores da oposição criticaram a decisão de não manter as 3 unidades funcionando em estado de “reserva” na matriz energética do país. Markus Söder, governador do estado da Baviera e integrante do partido União Social Cristã (CSU), afirmou que a decisão do governo de coalizão era “puramente ideológica”.

No domingo (14), o Ministério do Meio Ambiente da Alemanha rejeitou um pedido do estado da Baviera para continuar operando usinas nucleares, afirmando que a jurisdição para essas instalações cabe ao governo federal, de acordo com a agência de notícias Reuters.

Entre os cientistas, as críticas que mais ganharam destaque vieram de associados da RePlanet, uma organização não-governamental, que chegaram a escrever uma carta aberta para o chanceler.

“Tendo em vista a ameaça que as mudanças climáticas representam para a vida em nosso planeta e a óbvia crise energética em que a Alemanha e a Europa se encontram devido à indisponibilidade do gás natural russo, pedimos a você que continue operando as últimas usinas nucleares alemãs restantes” escreveram os cientistas. Entre eles estão ao menos dois ganhadores do Nobel de Física (Klaus von Klitzing – 1985 e Steven Chu – 1997), além de pesquisadores da mudança do clima (entre eles James Hansen, um ex-especialista em clima da Nasa).

** Com informações do G1

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