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‘A síndrome do pânico impactou em toda a minha vida’, diz Rafa Kalimann, que lida com o transtorno há 5 anos

Em entrevista ao GLOBO, a artista fala que a terapia, a dança e o contato com a água são fundamentais na sua estabilidade mental

Foto: Brunno Rangel

Há pelo menos cinco anos, a atriz, apresentadora e influenciadora Rafa Kalimann sofre com crises de pânico. Ela foi diagnosticada após sentir que “perdeu o controle” durante uma viagem de avião. Segundo ela, os sintomas foram: uma dor profunda, falta de ar, desespero enorme, choro e medo.

— Tudo hoje me causa muito mais medo e insegurança do que antes. Porque sempre vou para algum lugar achando que vai ser um motivo para desencadear uma nova crise. Mas não quero deixar de viver e isso foi um compromisso que fiz logo no início comigo mesma, de que iria aprender a encarar tudo com muita coragem — diz.

Em entrevista ao GLOBO, a artista revela que decidiu falar sobre o tema recentemente no quadro “Dança dos Famosos”, no Domingão com Huck, porque encontrou na dança um meio de tratamento contra a doença e que, desde então, “mudou uma chave” em sua mente com o propósito de alertar as pessoas sobre a síndrome que é cada vez mais frequente na sociedade.

Kalimann detalha como descobriu a doença, os principais sintomas que sente, além dos tipos de tratamento que encontrou para driblar as crises. Além da dança, ela cita a alimentação, terapia e o fluxo da água corrente que ajuda a relaxar e acabar com as angústias.

Confira a entrevista a seguir:

Quando foi a primeira vez que você teve uma crise de pânico?

Tive alguns sinais de alerta antes da crise em si. Comecei a sentir que a minha saúde mental estava abalada porque andava muito cansada emocionalmente. Não era algo físico. Algumas situações que antes eram simples de executar, passaram a me dar muita ansiedade. Comecei a sentir medos que eu não tinha, de coisas mais simples, como pegar um avião, viajar sozinha, ou ficar sozinha. Não era mais um momento especial onde eu conseguia me curtir. Havia mudado algo dentro de mim que não estava bom.

Acredito que a primeira vez que tive uma crise de pânico foi em 2018, durante uma viagem de avião. Não sei dizer ao certo como começou, mas senti que havia perdido o controle da situação. Nós estamos na condução de um piloto, de um motor, e aquilo me deu muito medo. Senti falta de ar, medo de acontecer alguma coisa, um desespero enorme, chorava muito, e não conseguia entender de onde vinha tudo aquilo, que sentimento era aquele dentro de mim. Eu já fazia terapia, tinha minha psicóloga, o que foi um diferencial enorme para mim. Ela me alertou de que algo precisava ser feito mais internamente e aprofundado. E só assim fui perceber que aquilo era uma crise de pânico.

O diagnóstico impactou a sua vida?

As crises de pânico impactaram toda a mina vida. Vivo e estou vivendo essas mutações. Coisas que antes para mim eram hobbies, alegria, diversão, como andar em uma montanha russa, saltar de asa delta, me causa medo e angústia. Mas eu também não quero deixar de ir em uma balada, por exemplo. Tudo hoje me causa muito mais medo e insegurança do que antes. Porque sempre vou para algum lugar achando que vai ser um motivo para desencadear uma nova crise. Mas não quero deixar de viver e isso foi um compromisso que fiz logo no início comigo mesma, de que iria aprender a encarar tudo com muita coragem. Várias vezes chego em um lugar e penso que não quero fazer por medo de sentir alguma coisa.

No Big Brother, por exemplo, foi isso. A decisão de ir para o reality foi algo muito delicado por esse ponto. Lá dentro eu consegui controlar muito bem. É claro, sempre quando sinto algo, eu respeito muito isso. Eu vou para o meu canto, fico sozinha, coloco em prática minhas técnicas de respiração. Só que não tentar não é uma opção para mim. Mas o maior impacto que essa síndrome trouxe foi o autoconhecimento. Coisas que passavam despercebidas por mim, agora vejo e sinto com clareza.

Percepções do que realmente é muito importante e relevante, o que me faz bem de fato. Nessas horas, temos uma profunda certeza do que a gente está sentindo. Tudo é levado ao extremo. Quando estou em épocas de muitas crises, tudo se torna muito, eu me torno mais intensa e profunda.

Quais são os cuidados que você tem para lidar com isso?

O mesmo cuidado que a gente tem com a nossa saúde física, precisamos ter com a saúde mental. Queria ter começado a ter os cuidados que eu tenho hoje antes. Não sei se seria suficiente, mas talvez a síndrome chegasse de uma maneira diferente ou eu não a teria. Quando sinto que esta dor, que essa crise, está chegando, já começo a me preparar no meu íntimo. Vou para o meu quarto e crio o meu momento, voltado para me conectar comigo mesma. Descobri que a água me acalma muito, ela é a minha âncora de calmaria durante as crises, o fluxo d´água é onde consigo recuperar as minhas forças, o meu refúgio, o lugar aonde eu vou nesse momento de aflição e sufoco. A água, para mim, é fundamental nesses ciclos e fases que eu vou passando durante as crises. Coloco uma música que me acalma, um louvor e tento respirar, porque a respiração é importantíssima durante uma crise de pânico. Busco técnicas de respiração e faço meditação.

Você está participando do programa ‘Dança dos Famosos’ no Domingão com Huck. Como tem sido essa experiência?

Até o momento do início dos ensaios, durante a preparação, acredito que tenha sido a fase mais difícil e mais delicada que vivi em relação as crises nos últimos anos. Eu estava tendo várias, e sentia muita dificuldade de controlá-las, de identificar os sinais. Coisas que antes faziam um efeito gigante para me ajudar nisso tudo, não estavam mais fazendo efeito. Eu estava extremamente tensa e preocupada. E quando a dança começou de fato, foi muito transformador, aconteceu algo poderoso dentro de mim.

Desde o diagnóstico, você chegou a emagrecer devido a mudança em sua alimentação e rotina de exercícios. Essa mudança teve um impacto positivo em sua vida?

A gente vai aprendendo e sentindo quais situações te levam para algo mais confortável nisso tudo. Quando mudei minha alimentação, meu sono e meus exercícios em benefício das crises, eu falava para as pessoas que eu emagreci, não por querer ou por algo estético, mas por necessidade, pelo meu bem-estar e minha saúde. Era justamente por conta disso. Mudei toda uma estrutura em razão da síndrome do pânico e as pessoas vieram, vinham e continuam vindo com uma enxurrada de críticas em relação a isso, que potencializam essa dor. As pessoas precisam entender a responsabilidade que um comentário negativo tem na vida de outras pessoas. Um lado meu estava muito bom, saudável, buscando uma saúde física que beneficiaria minha saúde mental e em contrapartida, o peso disso era gigante. O corpo encontra formas de se sentir mais confortável, e eu senti que a forma que estou hoje é o corpo que a Rafa se sente confortável, não é o que eu busquei como forma estética, mas saúde.

Por que você decidiu falar abertamente sobre o assunto?

Ainda é difícil falar sobre isso. Encarar a dor, ter a coragem de verbalizar, mas acho fundamental para alertar as pessoas e dar atenção a um assunto que, infelizmente, está cada vez mais comum na nossa sociedade. As pessoas precisam ter uma virada de chave urgente em relação ao problema. Olhar para a questão da saúde mental com menos tabu e menos preconceito, com mais prioridade. Muitos ainda acham que fazer uma terapia é quando você está com um problema. Não é isso. Nossa saúde mental é tão importante quanto a física. A nossa sociedade precisa se abrir e enxergar qualquer problema e questão que envolva depressão, ansiedade, pânico, com a mesma preocupação e seriedade que a gente enxerga qualquer outro tipo de doença.

** Com informações do O Globo

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